Capítulo I: VERNISSAGE

Quando abri meus olhos naquela noite fria de verão escaldante, repensei os fatos. Coloquei-os ao lado dos sonhos, reorganizei aquela disposição improvisada e jurei que seria pela última vez. Eram recortes de perspectivas superestimadas, criadas por mero acaso. E como eu estava cansado. Pus-me de lado no avesso do pensamento torto e não soube mais dizer qual seria o sentido correto da força da gravidade.
Há certo grau de confusão enquanto transcrevo tais fatos, mas peço paciência. Há sempre de se encontrar uma linha cronológica que faça algum sentido após todos os argumentos estarem dispostos sobre a mesa.
Ao lado do cofre do quarto dos fundos, havia um molho de chaves. Uma delas poderia ser magenta ou mesmo de qualquer outra cor, toquei-a para ter certeza da textura. E foi como trocar de roupas sem grande esforço após um banho quente no ápice do inverno. Mas fora a nudes que me causara espanto.
Eu queria encontrar o ponto simétrico dos pensamentos que escorriam sem sentido, mas isso não cabia na lógica do tempo e espaço de tamanha companhia sem solidão que se alocara do lado de fora. Seja como for, tomei coragem para despertar da nova camada de ilusões e procurei em meu interior por bons motivos que fizessem calar a voz bifurcada que me ditava padrões. Na intenção de salvá-los do afogamento, trouxe à margem do oceano de mim mesmo uma coleção ímpar de argumentos irrefutáveis, mas só para vê-los se afogar na areia.